sábado, 20 de janeiro de 2018

Amar, lutar e outros devaneios de fim-de-semana

Estes dias estava no sofá e enquanto os meus olhos se distraiam com a televisão o meu pensamento divagava, completamente alheio ao que se passava no exterior e dei por mim a fazer uma comparação tonta entre o amor e a matemática. Passo a explicar: a primeira coisa que aprendemos na matemática é que 1+1=2. E a primeira coisa que nos ensinam sobre o amor? É que o amor acontece quando um rapaz e uma rapariga gostam um do outro e ficam juntos. Ok, parece simples. Depois a coisa começa a complicar, entram as multiplicações, as subtracções, as divisões - e entram os ciúmes, o "já não gosto de ti, gosto de outra pessoa" ou o pior e catastrófico "só gosto de ti como amigo" que é o equivalente matemático a "qualquer número multiplicado por zero, dá zero".
Parece estranha esta comparação mas na verdade não é de todo totalmente descabida. A matemática é complicada, o amor também. Há quem domine a matemática e quem encontre um amor para a vida toda ainda na primavera da vida. Há quem precise de explicações para passar e quem procure os conselhos dos amigos para o primeiro encontro. E quando achamos que já estamos a dominar a ciência da coisa, bam!, entram as equações de segundo grau ao barulho, com mais uma incógnita para descobrir: estava tudo tão bem, ficavam tão bem juntos, porquê que acabaram?
Tal como na matemática, com os seus problemas sem solução, o amor tem razões que ninguém entende. Faz sentido?
Para mim faz e deve fazer para mais alguém, não é à toa que o velho ditado diz que o amor tem razões que a própria razão desconhece. 
A sociedade no geral não gosta de matemática, uma ciência exacta com regras e fórmulas mas no entanto acredita ter solução imediata para qualquer problema amoroso. Acredita que o amor se rege de forma muito simples e básica por regras e por padrões simples de seguir: és rapariga, tens que ser bonita, simpática, bem educada e inteligente para arranjares um namorado bonito, trabalhador. Tens que começar a pensar em casar, está na hora. Não estás a ir para nova, tens que começar a pensar em ter filhos, criar família, o tempo não espera. Quando estás a pensar dar-lhe um irmãozinho?Tic-tac, tic-tac... 
Nada contra, atenção! O que para uns são estereótipos para outros são desejos de vida. Cada um segue o seu próprio caminho, os seus próprios sonhos, cumpre os seus próprios objetivos. Cada um luta pelo que mais deseja. 
Lutar. Uma palavra tão simples, entre tantas no dicionário. Uma palavra tão pequena para descrever o acto tão forte que encerra nela. 
A Humanidade luta desde que existe, contra predadores, contra as intempéries, no geral pela sobrevivência. Desde bebés que a Mãe natureza nos obriga a lutar. Aliás, somos o espermatozóide que lutou e venceu, que fecundou o óvulo - embora nalguns casos não consiga perceber muito bem como, mas adiante.
Lutamos por comida quando não a sabemos pedir, lutamos contra a gravidade ao aprender os primeiros passos. Lutamos contra gripes e constipações, como diz o anúncio televisivo.
Parece algo que está nos nossos genes, lutar, resistir, querer mais, querer o melhor e desde cedo começamos a sentir na pele os padrões e expectativas da sociedade que na verdade parece é estar lutar contra nós e que nos leva a querer lutar também - pelo mesmo ou contra. Mas essencialmente a lutar por alcançar algo mais. Eventualmente, acabamos por chegar a um ponto em que sentimos que não somos bons o suficiente nesta luta, que não somos inteligentes o suficiente, bonitos o suficiente. Eventualmente acabamos por sentir que estamos aquém das expectativas do mundo. Não demonstramos - claro! - somos lutadores e os lutadores não fraquejam, mas e quando ficamos sós? Quando já estamos longe dos olhos da sociedade e das suas regras, sozinhos entre quatro paredes, quando pousamos a armadura? É aqui que, despidos de tudo, sentimos o peso desses padrões e dessas expectativas em cima dos ombros, é aqui que tudo parece ser em vão e que questionamos onde está a matemática simples que aprendemos na primeira classe, onde está o 1+1, o nosso conto de fadas. Questionamos as nossas escolhas, as nossas decisões. Questionamos se vale a pena esta constante teimosia em não baixar os braços, em lutar sempre sem parar. 
Acabamos por nos sentir um pouco alienamos ao mundo que os nossos olhos estão habituados a ver desde sempre. O tempo parece passar demasiado rápido e nada acontece, parece que nada muda, porque estamos focamos em grandes conquistas, em grandes passos, em futuros brilhantes. Esquecemos-nos de valorizar as pequenas coisas, que se transformam em grandes memórias. As pequenas conquistas, os pequenos passos. Esquecemos de polir os desafios que vencemos, os obstáculos que ultrapassamos, de recordar todos os segundos que nos tornaram nas pessoas que somos. A sociedade cria expectativas, mas somos nós, individualmente, que nos deixamos esmagar por elas. Cabe-nos a nós sacudir os ombros, colocar de novo a armadura e lutar, seja pelo que for, desde que o nosso coração lute connosco, lado-a-lado. 

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