domingo, 21 de agosto de 2011

Como dizer que estamos de coração partido?

Como dizer que estamos de coração partido? Gritamos para o mundo? Escrevemos numa garrafa e lançamos ao mar ou mandamos fotocopiar mil panfletos? Não. Simplesmente não se diz. Deixamos uma ou outra lágrima correr, enchemos de ranho o ombro e a paciência da melhor amiga. Falamos até à exaustão, deixamos a cabeça a fumegar de tanto pensar no assunto e aos poucos vamos deixando p’ra lá. Aos poucos, vai doendo menos, aos poucos vamos chorando menos, aos poucos vamos sorrindo mais, e vamos voltando a acreditar no Amor. Porque não há nada mais forte, mais intenso na condição humana que o Amor.
O Amor, que já originou batalhas, já fez correr sangue nas beiras das ruas.
Que já provocou duelos e serviu de fonte de inspiração aos artistas e poetas. O Amor, que tem as “costas largas”, que leva com a culpa de tudo. Não, não é a falta de química, ou de vontade de procurar ou de lutar. Não, é do Amor, única e exclusivamente. Ele é culpado das taxas de divórcio cada vez mais elevadas assim como dos casos de violência doméstica. Ele é o culpado dos anos a fio que as pessoas passam solteiras, na companhia do gato e da solidão. O Amor, o motor que faz o Homem mover mundos é o motor que guia violentamente o barco de encontro às falésias. O Amor, que dá alento ao náufrago não desistir é o responsável pelos marinheiros se deixarem encantar pelas malvadas sereias.
Graças a ele, as relações nunca dão certo. Ou é um canalha que quer andar a comer muitas ao mesmo tempo mas que diz, em sua defesa, homem que ama muitas mulheres. Ou então é um panasca que não anda p’ra frente, não os tem no sítio para fazer aqueles jantares românticas ou aquelas escapadinhas paradisíacas que andamos a sonhar em segredo (afinal de contas, “se ele me ama tem que saber essas coisas!”). Graças ao Amor, as pessoas levam gratuitamente umas belas decorações na cabecinha (que não ganha juízo de maneira nenhuma. “É para eu para aprender, nunca mais me vou apaixonar. Nunca mais!”), as contas conjuntas são misteriosamente desfalcadas (“Eu não percebo… Já tínhamos tudo planeado, até conta juntos e agora el@ põs-se a andar e levou tudo!”). É graças a essa maldição que ludibria a mente humana que sofremos, pois ‘tá claro! Se el@ não quer assumir compromisso, é culpa do Amor (“Nunca tive sorte ao Amor, sou uma desgraça!”). Por culpa do Amor, escolhemos sempre a pessoa errada (sempre os que se estão cagando para ele).
E se de uma vez por todas deixássemos de culpá-lo de tudo? Se começássemos a olhar para trás, com atenção para todos os desastres amorosos e tentássemos perceber o que deu errado, tentássemos aprender as lições que devíamos já ter aprendido, para não repetir os mesmos erros uma, outra e outra vez, num ciclo vicioso?
Não. É mais fácil culpar o Amor. Afinal de contas, não é ele que sofre. Somos nós.

1 comentário:

Nuno disse...

Que diabo, agora conseguiste pôr-me mesmo a pensar.
"E se em vez de culpar o Amor tentássemos perceber o que deu errado (...) para não repetir os mesmos erros?" A verdade é que muitas vezes pouco ou nada deu errado. É mesmo "o Amor" - esse sacaninha - que se encarrega de nos turvar o raciocínio e só mais tarde (invariavelmente mais tarde do que desejaríamos) percebemos que a pessoa não é exactamente o que idealizámos, o "complemento" com que sonhámos, a perfeição que sempre quisemos que fosse.