segunda-feira, 20 de junho de 2011

Raio de jogo este.

Eu tenho várias paixões. Uma delas é o teatro. Desde pequenina que os meus pais me habituaram a conviver com esta arte, com a magia dos palcos. Atrevi-me a pisar um ainda novinha, com cerca de 9 anos, numa encenação religiosa para a catequese. Mais tarde, entrei no grupo de teatro da minha escola. Daí não quis parar mais. Tive 2 anos nesse grupo, e quis dar um mais passo em frente, ao inscrever-me para um curso semi-profissional, nível I. Foram dos meses mais maravilhosos que tive. A oportunidade de chegar ao fim do dia e deitar fora as minhas dores de cabeça, vestindo-me de outra pessoa. De monstro. De Julieta.
Hoje, passados 3 anos, morro de saudades de pisar um palco,
de enfrentar o público, de vestir a máscara e viver outra vida. Nem que fosse por uma hora. Fui pedinte, fui narrador intrometido, fui rei maricas, fui monstro, fui Julieta. Fiz parte de um povo choroso. E chorei de verdade. Não lágrimas ensaiadas, lágrimas sentidas, de saudade que iria sentir quando as cortinas se fechassem, da emoção de um público aplaudir verdadeiramente.
Hoje, talvez, enceno o dia todo. Habituei-me a usar uma máscara, a rir quando tem que ser, a dizer que sim quando quero mandar pró c***lho. De quando em vez eu saio da personagem. E discuto, desabafo, sinto.
E esta peça cansa. Dá vontade de nunca ter que colocar a máscara, de simplesmente fundir-me com ela e mudar de personagem. Viver a vida de outra pessoa, sentir tudo de outra pessoa, ver tudo com os olhos de outra pessoa. Que isto às vezes dá vontade de fazer reset como nos jogos. E dizer que "não" quando perguntar se queremos guardar o jogo até àquele momento. Mas de facto a vida é mesmo isso. Um jogo, em que as regras não nos são explicadas, são aprendidas quando o nosso peão cai numa casa má, ou quando nos calha uma carta de má sorte. Em que, como num monopólio, começamos a pagar preços bem caros por certas coisas, e em que só sabemos uma coisa: não podemos desistir. Nunca.

1 comentário:

José Cevada disse...

Hey, infelizmente concordo contigo, a vida é cada vez mais uma peça de teatro sem ensaio, mas no meio de tantas máscaras ainda à uma só verdade ou já cada um tem a sua?:P

Beijo,