"Sair de casa e ser independente" não é assim tão fácil como parece. Dizer é fácil, pois claro, mas fazê-lo não. Mesmo com noção de que o dinheiro custa a ganhar, mesmo com a noção que há contas para pagar ao fim do mês, "Sair de casa e ser independente" é diferente, porque é lidar com a Realidade.
E sei disso porque o fiz. Acabei a licenciatura, estava numa fase da minha vida que queria mais e menos. Queria mais "liberdade", e queria dar menos "preocupações", menos "despesas".
Os meus pais recearam, mas aceitaram, pois afinal de contas, é a "minha vida, minha decisão". E no inicio não custou muito. Depois de apartamento pronto, contratos feitos, as despesas começaram a vir e o salário a sumir. Nunca passou dos 500€/mês mas dava. Deu para ir passear até à Bélgica. Depois foi mudança de emprego. E os 500 desceram para 300€. É chegar para pagar a luz, a água, o gás, a internet, a renda. É chegar para pagar as despesas. Veio o cão. É chegar para lhe comprar comida, dar-lhe as vacinas, ir ao veterinário. Depois foi preciso seguro de saúde. É chegar para o pagar. Depois o computador avariou. É chegar para pagar também o computador novo. O emprego não chega, é procurar por um segundo, para pagar as contas e sobrar dinheiro para comer e para guardar, "só em caso de ser preciso".
Por cima de tudo, é pensar no mestrado - que se não fossem os pais terem insistido em pagar as propinas, "pelo menos", por esta altura já tinha desistido.
É chegar à noite a casa, e apesar de ter o meu cromito e o nosso patudo à espera, estar exausta e só querer cama, mas ainda ter que fazer o jantar e preparar tudo para o dia seguinte.
No meio de tudo, é ter uma casa para manter arrumada, limpa. É roupa para lavar, passar. É manter o frigorífico e os armários com um nível alimentício aceitável. (Graças a Deus que os pais têm o bendito do quintal, o que ajuda com muita coisa).
E isto tudo é uma merda - perdoem-me o francês - e custa. Às vezes dá vontade de fechar os olhos e quando acordar estar tudo direito, com a conta cheia de dinheiro, sem ter que o contar bem contadinho.
Quando antes, nuns minutos livres, percorria páginas na internet a ver roupa e acessórios, agora é a procurar o segundo emprego que se consiga encaixar entre o actual e o mestrado.
Porra, como estou cansada.