segunda-feira, 21 de junho de 2021

Vazio.

Ter um vazio no peito é exatamente isso. Um vazio. Há muita coisa que pode ser dúbia na língua de Camões, mas o vazio é o vazio. É como um fado que chora de saudade - talvez porque este vazio vem de uma espécie de saudade, ainda que masoquista. É um vazio que independentemente da hora do dia que seja, independentemente da tarefa que tenhamos em mãos, da pessoa que esteja à nossa frente, o vazio está lá, a sugar-nos por dentro. O vazio é o ar que não se respira, o engolir que é em seco, a cabeça que não dói mas mói e onde meia volta sentimos aquela sensação de uma lágrima mais aventureira querer saltar dos nossos olhos. 

E falar desse vazio é pior, não porque piore - porque não piora! - mas relembra que está lá... É o enfiar um dedo na ferida e remexer até sangrar. É sentir como se parte do nosso ser - do nosso coração principalmente - tivesse sido cortado a frio e arrancado do peito e que agora nos deixou com um batimento cardíaco coxo, meio descompassado, meio perdido, sem saber muito bem como acompanhar o passar do tempo.

Depois, quando tudo se cala, na calada da noite, quando as passadas parecem não soar mais alto que os próprios pensamentos, é aqui que tudo começa.

É quando os nossos olhos buscam algo e não vêm nada, é quando os braços esticam e não alcançam ninguém, só o vazio e um lamento.

É quando a boca se abre, como que em jeito de querer pronunciar algo, proferir um grito ou um ai, que a voz fica presa entre um nó de garganta e um choro engolido. 

É quando o coração tenta bater, mas o sangue parece não pulsar, é quando o cérebro finalmente dá de si e começa a doer, deixa de pensar, deixa o corpo cair e em jeito de tormento vomita todas as memórias nesse vazio, que aumenta mais e mais e mais com o passar do tempo. 

Ter um vazio no peito é exatamente isto. E mais, muito mais. É achar que se morreu por dentro, de dor, de saudade, de tudo e de nada. Do vazio que cresce por dentro.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

59.

 


As mães deviam ser eternas porque as filhas precisam das mães até serem velhinhas, precisam das mães mesmo já sendo donas de casa, já sendo crescidas, até mesmo já sendo mães.

Uma filha será sempre uma mulher, uma amiga, uma namorada, uma colega, uma trabalhadora, mas quando perde a mãe a perde também uma parte de ser filha? Perder uma mãe é perder um pedaço de nós. É arrancarem-nos um bocado do coração e atirá-lo também para uma cova.

Hoje a minha mãe faria 59 anos. Hoje iríamos juntar-nos à mesa, Ela iria reclamar do tamanho do bolo que eu teria feito para lhe cantar os parabéns e iria reclamar de ter gasto dinheiro numa prenda porque não precisa de nada. “Ter-te a ti e ao Pai é tudo o que preciso”. E agora que eu e o Pai não te temos a ti? Como é? 

Não tenho sequer voz para te cantar os parabens nem fôlego para soprar as velas por ti. 

Não tenho a tua voz encostada ao meu peito, nem os meus braços à tua volta, enrolados com os teus à minha volta, mas tens o meu coração para sempre contigo.

Hoje até o céu chora. Parabéns Mãe. 🖤