terça-feira, 29 de julho de 2014

#projectomeianoite - conto 1 (incompleto)

Meia noite.

O luar ilumina o quarto, por entre as frinchas da janela. Recostada na cama, acende um cigarro enquanto lhe admira os contornos já sem vida. Respira, calmamente. «Otário.». Levanta-se, embrulhada no seu pudor, e dirige-se ao chuveiro. A água quente percorre-lhe as curvas, acompanhando o ritmo gélido do sangue que escorria na divisão contígua. Enquanto o vapor embacia os vidros, transformando a casa de banho num lugar húmido e repleto de sombras, ela perde-se em pensamentos obscuros, qual barco à deriva numa tempestade.
Na rua ouviam-se o latir dos cães, e o camião do lixo, que decidira passar mais cedo nessa noite, desperta-a. Bolas! O que faria agora com ele?
Enquanto tenta evitar que as gotas de água que pingavam do seu cabelo manchassem a sua obra de arte, contempla os traços daquele que há horas atrás fora um maravilhoso amante. Era um homem já vivido, porém o seu charme e a sua arrogância, disfarçada de soberania, tinham-na enfeitiçado. Desejava-o secretamente. Até aquela noite.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

#projectomeianoite - Intro

É meia-noite.
As palavras fluem-lhe pelo dedos, enquanto as emoções às quais cedeu fazem as vezes do coração e bombeiam por todo o corpo uma adrenalina mais vital que o próprio sangue.
É meia-noite.
Não tem norte, não tem sorte. Apenas escreve, rápida e ansiosamente, como se todo o tempo do mundo não lhe desse tempo suficiente para ela poder dizer tudo o que ia na alma.
É meia-noite.
Ela tenta desesperadamente resolver a charada em que se tornou, mas aquele enigma torna-se cada mais abstracto e mais estrangeiro a si mesma.
É meia-noite.
O desespero de ter tanto para dizer, tanto para mostrar, tanto para gritar aos 4 cantos do mundo. O desespero por os seus dedos não acompanharem o ritmo do seu cérebro. O desespero das letras atabalhoarem-se umas com as outras, enquanto o sangue escorre num fino fio das pontas dos dedos ensanguentados.
É meia-noite.

Recomeça a penosa viagem a que é obrigada fazer, todos os dias à meia-noite. E a tortura da sua descoberta não sai daquele ciclo vicioso.