Hoje fui visitar a minha mãe. À campa. Quase um ano passado
e dói demasiado ver o seu rosto sorridente naquela moldura de lápide. Não
combina, não faz sentido. Não consigo ir lá tantas vezes quanto deveria,
quantas vezes seria política e socialmente correto, mas eu não vivo de
aparência, vivo de memórias. Ainda estou a lutar para conseguir sorrir e
conseguir segurar as lágrimas cada vez que penso nela.
Cada um deveria poder viver o luto como melhor suporta sem
ter os dedos reprovadores alheios, a julgarem o número de visitas a um
cemitério. Não são essas visitas que traduzem as saudades que eu tenho dela. Não
são as vezes que estou lá, em frente ao granito adornado de flores que mostram
a falta que faz na minha vida, nas nossas vidas. Não passou um dia desde que
ela foi que não esteja no meu pensamento, nos meus sonhos, em tudo. Há tanto
que acontece que me pergunto o que teria para dizer, quantos sorrisos teria
para me dar, quanto abraços para me apertar, quantos “força filha, pensa
positivo” para me dizer. Apenas imagino na minha cabeça e lembro-me do medo que
tenho de esquecer o som da voz dela, a doçura do olhar, o calor dos beijinhos
com que me enchia cada vez que me via. Tenho medo que o tempo seja cruel e
apague tudo.
Quase um ano se passou e cada vez faz menos sentido.
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