Meia-noite.
Escrevo pausada e apaixonadamente. Transformo em letras o ritmo do meu coração
e teletransporto a minha mente sem que o meu corpo saia da frente do computador
que recebe o bater mecanizado dos meus dedos nas teclas já desgastadas.
Numa viagem
rápida, ultrapasso a cápsula do tempo e do espaço e aterro numa casa que cheira
a mar.
«Devo ter
deixado a janela aberta com a pressa.» Dispo aquela farda que me sufocou o dia
inteiro, impregnada de sal. Corro pelas divisões em busca dele e encontro-o,
poucos instantes depois, apenas de toalha à cinta. Presenteia-me com o seu mais
belo sorriso, os seus braços fortes puxam-me na sua direção e beija-me
apaixonada e calorosamente, como se fosse a primeira vez.
O banho
estava preparado: água quente, espuma e pétalas de rosas. Há champanhe. Respiro
o meu conto de fadas até à última lufada, como se este pudesse acabar antes de
sequer ter começado.
Os números
vermelhos e brilhantes do rádio-relógio marcam meia-noite. Já deitados vejo o
peito dele subir e descer, num ritmo calmo. O corpo cansado repousa descoberto,
tentando compensar a temperatura elevada do ar que enche a divisão. Os raios do
luar atravessam a janela entreaberta, permitindo-me admirar os contornos que
definem tão doce existência.