sexta-feira, 10 de junho de 2011

A brincar que o diga...

Numa fresca manhã, mesmo antes de entardecer, a noite caía caladinha quando alguém me veio dizer:
"Hei tu, que raio andas a fazer?Já és crescidinha, não tiveste tempo de aprender?"
E eu, olhando intrigada, com pinta de sono na cara estampada, perguntei baixinho:
"Ouve lá que raio estás praí a dizer? Na cabeça tenho juizinho, sei muito bem o que estou a fazer!"
E alguém riu a bandeiras despregadas, de boca calada, não fossem ouvir tais insanas gargalhadas:
"Ai pequena travessa, que grande tonteira vai nessa caixa cabeça! Porventura já esqueceste as grandes cabeçadas dadas à conta dessa brincadeira?"
E eu cada vez mais das ideias trocada, retorqui, toda emproada:
"Mas de quais cabeçadas estás praí a palrar? Já te disse, sou menina ajuizada! Não parto um prato, não digo uma asneira! Bolas, que conversa traiçoeira!"
No alto da sua baixeza, disse-me então a rouca voz com clareza:
"De seres ajuizada não tenho nada a dizer, nem digo que pratos partas ou andes asneiras a dizer. Digo sim, e de forma, creio, certeira: menina, com toda essa agitação devias ter cuidado, ouve-me bem com atenção: cautela com esse músculo apaixonado. Não se brinca com assuntos do coração."

Jane.

1 comentário:

Nuno disse...

Gostei do conteúdo, gostei muito da forma e não consigo passar sem realçar a inclusão da palavra "palrar", palavra que adoro e que encaixa neste texto que nem ginjas.