Sentei-me em frente ao computador, na ânsia de conseguir escrever, traduzir em meia dúzia de palavras atabalhoadas o caos que vai na minha cabeça. Tenho a gata a correr como uma louca pela casa, e rio-me sozinha, quando me apercebo que ela é a melhor metáfora para o estado da minha vida neste momento.
Tinha tudo tão planeado, ao mais ínfimo pormenor, que me esqueci que a vida podia seguir por alguns atalhos que eu não conhecia assim tão bem, e desviar-me do meu tão cuidadosamente planeado trajecto, atalhos esses tão irónicos, que normalmente só me daria vontade de rir às gargalhadas.
Portanto cá estou eu, sentada no sofá, meia atordoada, sem saber bem o que dizer, com uma manga rasgada e um olho negro da coça que 2016 me está a dar e é nestas alturas que penso em como é bom ter o tempo todo ocupado, em que o pouco que sobra é para cumprir com as minhas necessidades básicas.
Ao fim de cinco anos de partilha de histórias, de momentos, de aprendizagens, acabei um noivado. Acabei uma relação com um homem que me jurou amor eterno, e que sei que iria cumprir essa jura.
Ensinaram-me sempre a lutar pela minha felicidade e em nunca baixar os braços e querer sempre o melhor para mim. Eu não era feliz, mas ele era bom para mim. Desde então luto com a minha consciência, numa tentativa de perceber se não seria ele o melhor para mim, e eu, cega, é que não fui capaz de ver isso.
Será possível, com a ânsia de querermos tudo - um bom trabalho, uma boa casa, qualidade de vida, família, amor, dinheiro, saúde - nos perdemos, e acabarmos por ficar sem nada?
Poucas pessoas sabem a exacta razão da minha decisão mas em todas elas existe uma opinião em comum: se não era feliz, foi a decisão certa, e (cliché) além disso, ainda sou nova, e irei com certeza encontrar alguém. Irei encontrar a tampa para a minha panela.
Mas, e se não encontrar? E se esta decisão fez desmoronar todas as hipóteses que existiriam de ter o meu "happy ending"?
Eu acredito piamente no destino, e acredito que tudo o que acontece tem uma razão para tal, e enquanto digo isto, fecho os olhos com força, engulo as lágrimas, tento esquecer que para cada homem existem sete mulheres, e forço-me por acreditar que o meu príncipe encantado está algures por aí. Se já me conheceu, ainda não sabe que eu sou a Cinderela dele, e se ainda não me conheceu, anda a vaguear por aí, meio perdido, até se esbarrar comigo e finalmente poder viver o «felizes para sempre», como se de um filme da Disney se tratasse.
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