segunda-feira, 21 de junho de 2021

Vazio.

Ter um vazio no peito é exatamente isso. Um vazio. Há muita coisa que pode ser dúbia na língua de Camões, mas o vazio é o vazio. É como um fado que chora de saudade - talvez porque este vazio vem de uma espécie de saudade, ainda que masoquista. É um vazio que independentemente da hora do dia que seja, independentemente da tarefa que tenhamos em mãos, da pessoa que esteja à nossa frente, o vazio está lá, a sugar-nos por dentro. O vazio é o ar que não se respira, o engolir que é em seco, a cabeça que não dói mas mói e onde meia volta sentimos aquela sensação de uma lágrima mais aventureira querer saltar dos nossos olhos. 

E falar desse vazio é pior, não porque piore - porque não piora! - mas relembra que está lá... É o enfiar um dedo na ferida e remexer até sangrar. É sentir como se parte do nosso ser - do nosso coração principalmente - tivesse sido cortado a frio e arrancado do peito e que agora nos deixou com um batimento cardíaco coxo, meio descompassado, meio perdido, sem saber muito bem como acompanhar o passar do tempo.

Depois, quando tudo se cala, na calada da noite, quando as passadas parecem não soar mais alto que os próprios pensamentos, é aqui que tudo começa.

É quando os nossos olhos buscam algo e não vêm nada, é quando os braços esticam e não alcançam ninguém, só o vazio e um lamento.

É quando a boca se abre, como que em jeito de querer pronunciar algo, proferir um grito ou um ai, que a voz fica presa entre um nó de garganta e um choro engolido. 

É quando o coração tenta bater, mas o sangue parece não pulsar, é quando o cérebro finalmente dá de si e começa a doer, deixa de pensar, deixa o corpo cair e em jeito de tormento vomita todas as memórias nesse vazio, que aumenta mais e mais e mais com o passar do tempo. 

Ter um vazio no peito é exatamente isto. E mais, muito mais. É achar que se morreu por dentro, de dor, de saudade, de tudo e de nada. Do vazio que cresce por dentro.