Reza a história que foi construída
uma linha de comboio entre Veneza e Viena mesmo sem existir ainda um comboio
para fazer o percurso - os habitantes locais, no seu íntimo, sabiam que construindo
o caminho o comboio acabaria por chegar para ligar aqueles dois pontos que
pareciam tão distantes entre si.
Creio que ainda é assim que nos
vejo – dois lugares distantes, isolados. Dois lugares cheios de tudo, de vida,
de aventuras, de emoções, dois lugares que lhes falta apenas o caminho a ligá-los.
Creio que é nisso que todas as partículas do meu ser, cada molécula e cada
átomo, trabalham afincadamente, diariamente, contra a minha vontade. Teimam em
construir, sozinhos, um caminho até ti.
E tal como construir uma linha de
comboio, construir uma ligação entre nós é um trabalho moroso, por lugares
tortuosos, difíceis de aceder e de percorrer. Encontro centenas de pedras e de obstáculos
sem fim. Perco as forças, sento-me em derrota e abandono as ferramentas de
trabalho respingadas de suor e sangue. Já perdi conta à quantidade de vezes que
virei costas a esse trabalho, que procurei rotas alternativas, outros lugares
para visitar, menos difíceis, menos inalcançáveis, mas de alguma forma, nesses
espaços de tempo que parecem não ter fim, enquanto me encontro à deriva nos
meus próprios mares de anseios e emoções, acabo sempre por voltar a essa linha
de comboio, meia construída, meia tapada por ervas daninhas e poeira do tempo
de abandono. De alguma forma as minhas mão são impulsionadas em agarrar
novamente na pá e retomam o trabalho que tinham deixado por terminar. De alguma
forma encontro forças para fixar mais um balastro, de avançar mais um pouco em
direção a ti, ao teu mundo desconhecido e misterioso.
De alguma forma, há uma voz que
não me deixa parar, que me avisa que um dia virá o comboio até ti e que me diz
que vou adorar a viagem.