Meto as chaves na fechadura e rodo-as, para se abrir à minha frente o silêncio de mais um dia terminado.
A mochila pesa um mundo, os
sapatos apertam-me, a roupa incomoda e o soutien sufoca-me. Dirijo-me, em
piloto automático, para o closet e despejo-me de todo o armamento de mais um dia
de trabalho. A Bree abana o rabo alegremente por me ver, após várias horas de diversão
numa casa só pra ela. Respiro fundo, deixo-me cair no sofá sem forças para me
mexer dali. São 19h30, tenho fome, sinto-me suja e suada, mas o cansaço parece
estar entranhado na minha pele e não me deixa mexer um músculo sequer. Atiro a
cabeça pra trás, deixando-a cair nas almofadas, enquanto o barulho de alguém no
corredor se entranha no meu cérebro. Gostava que fosses TU. Um alguém sem nome,
um homem sem rosto, um porto de abrigo sem lugar definido. TU, aquele que iria
entrar na sala, vestido com um sorriso aberto, uns braços calorosos e uns calções
de ganga desbotados pelo tempo. TU, aquele abraço seguro que me ia aconchegar no
final do dia, enquanto me perguntava como correu. Não tens nome, não tens berço,
não tens forma, só essência - AMOR.
Mas em vez de ti, são só uns vizinhos
que não consegui distinguir e que tal como eu, terminam também mais um dia de
trabalho. Pela fração V, sou só eu e a Bree, e o silêncio de mais um dia
terminado.